Percebe-se, na cidade de Cachoeira do Sul, assim como em tantas outras espalhadas pelo Brasil, graves problemas relacionados à conservação de seu patrimônio edificado. Localizada na depressão central do Rio Grande do Sul, Cachoeira do Sul ostenta atualmente o título de Capital Nacional do Arroz. Como consequência, a cidade sedia bienalmente a Feira Nacional do Arroz – Fenarroz, conhecida como o maior evento das Américas e segundo maior do mundo relacionado ao cultivo do grão.
Cabe destacar, em tal contexto, a figura de Reinaldo Roesch, conhecido como Barão do Arroz e responsável por transformar Cachoeira do Sul em símbolo dos engenhos. Através da construção do Engenho Brasil, no final da década de 1920, Roesch transformou a cidade em importante polo industrial, fazendo-a figurar em cenário mundial como um dos principais polos produtores de arroz. Cerca de nove décadas após a fundação do empreendimento, no entanto, o que se percebe é um cenário de abandono e descaracterização de estruturas cujo papel foi fundamental à conformação histórica e social do município.
Com arquitetura de caráter industrial e fortemente influenciada pelo movimento Art Déco, o Engenho Roesch está instalado em uma região que, apesar de não cumprir mais com as funções as quais foi designada, caracteriza-se como um importante polo atrativo de população, sobretudo jovem e aos finais de semana, devido a presença de casas noturnas e distribuidoras de bebidas nas imediações. Cabe ressaltar porém, que a falta de segurança se faz constante, inclusive já tendo vitimado usuários, que ocupam o espaço – carente de infraestrutura – em busca de diversão.
O projeto, caracterizado por um Complexo Cultural e Gastronômico, se faz relevante no sentido de resgatar estruturas industriais em desuso e seu entorno imediato, no coração da malha urbana municipal, como tentativa de recuperar sua continuidade, prejudicada pela formação de um fenômeno de consequências negativas caracterizado pelo termo friche industrielle. Tendo em vista que o antigo uso de tais estruturas está fortemente ligado ao processo de formação histórico-econômica do município, a ideia de ressignificá-las no atual contexto visa, além de proporcionar novas alternativas de lazer e cultura, fomentar o senso de pertencimento e a valorização da bagagem histórica municipal por parte da população, buscando tornar rica a experiência do ser enquanto agente social. Pretende-se também, despertar a atenção do poder público para a necessidade de inventariação e tombamento de todas as estruturas de caráter histórico que constituem tanto a área de interesse, quanto as demais regiões onde constam edificações de valor patrimonial no município.
O conceito do projeto está em reacender as antigas estruturas de dentro para fora, explorando transparência e permeabilidade visual de maneira a expor a polivalência espacial pertinente a locais de uso cultural. Com programa de necessidades enxuto, almeja-se atender a um público amplo e variado, caracterizado pela população residente no município de Cachoeira do Sul, focando no extrato populacional que vai da criança ao jovem adulto, procurando difundir a preservação patrimonial desde cedo e garantir novos olhares à paisagem, tanto natural quanto urbana.
Locomotiva Cultural: Ressignificando o Antigo Engenho Roesch
Autor:
Matheus Luiz Rosa
Orientador:
Fábio Müller
Instituição:
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
Data:
2019-2
Deixe seu comentário