A ideia de desenvolver o presente trabalho nasceu da percepção de necessidades, necessidade de resgatar o valor de uma história e uma cultura que aos poucos se perdia, e necessidade de um espaço público qualificado capaz de atender a uma população que buscava por isso. O Aeródromo Luiz Beck da Silva, situado no bairro Linha Santa Cruz, na cidade de Santa Cruz do Sul – RS, sede do Aeroclube de Santa Cruz do Sul, é o local onde esse conjunto de situações se choca, presenciando, de um lado, o decréscimo das atividades do Aeroclube – o qual acumula mais de 80 anos de história -, e do outro lado, o aumento crescente da população que passou a se apropriar do restrito espaço público do local, para as mais diversas atividades envolvendo lazer, estar e convívio. Sob estes aspectos, pode-se dizer que o espaço hoje configura um cenário múltiplo, de carências e potencialidades, memórias e história.
A presente situação advém de uma série de fatores, que levaram a sua consolidação. O Aeroclube, que nasceu na fase de estupor do estudo e ensino da aviação no Brasil, e que por muitas décadas se manteve em plena atividade, veio a se perder aos poucos, tanto pelas exigências crescentes para as atividades de ensino, quanto pela desatenção por parte dos órgãos públicos, responsáveis pela manutenção e atualização da pista de voo. Ao que tange a apropriação da população desse espaço, não se trata de uma situação nova, ela acontecia a anos, pela apreciação dos voos e visuais do local, porém, o recente impulso de crescimento do Bairro acabou por causar uma intensificação sensível desse uso, tornando-se comum registrar desde pais com crianças, a adolescentes com skates e bicicletas, jovens com seus animais de estimação e pessoas das mais variadas idades praticando atividades físicas, num espaço que na realidade nada mais é, que um acesso de veículos.
Assim, visando solucionar a problemática e as fragilidades detectadas, valorizando os laços já construídos com o lugar e as possibilidades atreladas a eles, a proposta do Complexo Voar objetiva um espaço que atenda as necessidades vigentes da população do bairro e região, por meio de um parque que estende e amplifica a área acessível do local, e um resgate e reconhecimento do valor das atividades próprias do local, através do novo Centro de Aviação, buscando proporcionar um espaço não apenas de suporte aos usos – planejados e não planejados – dados a esse local, mas de estímulo, incentivo e integração entre eles. Desse modo, a reestruturação do lugar além de se apoiar em toda a normativa relativa a locais de ensino e treino de voo, se embasa fortemente sobre a relação já estabelecida das pessoas com o espaço, buscando instigar a forma como elas se utilizam dele e preservar este olhar de encanto sobre o local de “belas visuais, voos e aviões”.
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