Com o passar dos anos, as cidades de economia industrial passaram por importantes transformações, destacando-se o frequente abandono de complexos fabris – principalmente aqueles localizados em áreas centrais, dificultados pelo escoamento da produção, falta de espaço ou valor da terra para crescimento do espaço físico ou ainda, mais recentemente, crises econômicas. Esses edifícios englobados pela malha urbana, com ou sem qualidade arquitetônica ou histórica, hoje se encontram abandonados em áreas privilegiadas da cidade, ficando assim à mercê dos interesses do mercado imobiliário.
A evolução urbana de Caxias do Sul está interligada com o seu desenvolvimento industrial, visto que já em 1940 a cidade tornou-se predominantemente urbana. As áreas industriais da cidade possuem significativa relação com a configuração espacial do território, uma vez que se torna evidente a expansão da cidade nessa direção, seguindo a lógica de moradia-trabalho.
O recorte urbano para intervenção compreende um conjunto de quarteirões, atualmente subutilizado, em uma área importante e articuladora da cidade de Caxias do Sul. Localizada entre o primeiro e o segundo anel perimetral, configurando-se como um importante eixo de conexão entre a região Norte da cidade com o Centro. Diversos equipamentos e instituições se concentram nas áreas adjacentes, atraindo para o local um público bastante diverso. Instituições de Assistência Social, de Ensino e Cultura, Órgãos Públicos e Privados, são agentes chaves potenciais para a ativação do local. Apesar de ser uma região consolidada na área central, com grande quantidade de habitantes nos bairros adjacentes, não há espaços abertos e de lazer públicos.
O trabalho se desenvolve em duas escalas, a concepção de um Masterplan Estratégico e a elaboração de um projeto arquitetônico, configurando uma nova centralidade no entorno.
A proposta do Masterplan tem por objetivo desenvolver um plano urbano e arquitetônico sustentável, que considere as pré-existências, a memória do local, os agentes e as demandas da área, visando a requalificação urbana e promovendo espaços com funções múltiplas – habitação, comércio, serviço, lazer.
A partir da concepção do Masterplan foi possível delimitar uma nova centralidade para o entorno, configurada pela Praça e o Centro Cultural, com a ocupação de terrenos e edificações existentes e subutilizadas, ligadas à memória e ao desenvolvimento industrial do lugar: conjunto da antiga Fábrica de Correntes Sul-Riograndense, datado do início da década de 50.
O programa divide-se entre as quatro edificações. A antiga fábrica e o escritório, receberam os dois principais setores do programa: cultural e gastronômico. As atividades destes setores propõem usos comunitários e profissionalizantes, predominantemente diurnos, atendendo à demanda dos moradores do bairro e da grande quantidade de usuários que transitam pelos equipamentos públicos e privados do entorno. As atividades artísticas da galeria multiuso ocorrem em um único pavimento térreo junto a nova edificação do complexo. E, uma cobertura multiuso junto à praça cria um espaço de encontro e feiras ao ar livre.
As intervenções junto às edificações existentes levaram em conta a máxima conservação dos originais através da reparação das patologias, intervenções reversíveis e com legibilidade, devolvendo o potencial dos edifícios.
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