Ecovila de Interesse Social Chico Mendes

A produção habitacional no Brasil enfrenta problemas históricos de déficit e negação de acesso, remetidas a pelo menos desde 1850. Apesar de ser um direito constitucional, pouco concreto são as políticas que prometem ir contra o déficit, principalmente pela falta de entendimento que o direito à moradia também é o direito à cidade, ao transporte e a uma vida digna. Através de uma análise materialista histórico-dialética, foi possível traçar uma linha da construção das políticas públicas no Brasil, embasando o tema central deste trabalho: uma Ecovila. Ecovilas são nichos de inovação e experimentação sustentável, ecossistemas baseados na coletividade, tratadas aqui como alternativa à produção habitacional para além do imediatismo da quantidade e da unidade isolada. Uma Ecovila de Interesse Social, tratada sob um viés de propriedade coletiva, mostra-se como possibilidade da criação e habitações não mercantilizadas ou financeirizadas, tornando-se moradias para além do capital, trazendo a habitação como deveria ser: um direito universal e constitucional da República Federativa do Brasil. O projeto arquitetônico dessa “contracultura espacial” vai para além da produção de moradias: prevê uma Cidade Escola, o tratamento de resíduos, fontes de renda e produção alimentícia. Um habitat novo e sustentável para aqueles que por muito tempo foram obrigados a viver sem o mínimo, tendo no horizonte somente a exploração. Ecovila, neste trabalho, é um agrupamento social que se desenvolve por meio de práticas sustentáveis, sociais e culturais, com o objetivo de resolver ou amenizar mazelas sociais em pequenos nichos de atuação e bioconstrução, promovendo uma mudança no estilo de vida, com seus membros estabelecidos em um senso de comunidade, cooperação e solidariedade, de maneira participativa e democrática na tomada de decisões. Localizada na cidade de Santiago/RS, o projeto teve ênfase na construção em hiperadobe, trazendo um esboço de normativo e teórico, a construção em madeira, sustentabilidade local, tratamento de resíduos, com lagoas de estabilização e decompositores calculados, locais para ensino de uma prática urbana emancipadora e contato único com um modo diferente de viver. O projeto residencial foi pensado para a conceber ampliações sem maiores demolições ou mudanças estruturais, além do tratamento sanitário no próprio entorno, direcionado para a produção de alimentação e atividades lúdicas, como a jardinagem. A mudança topográfica do local levou em considerações cálculos de softwares com o objetivo de se utilizar do solo local para as construções e não necessitar de adição exterior, onde houve análise físico-quimica do solo local para a possibilidade das construções. Sua implantação foi feita em uma área de 11,34 hectares, onde centralizou-se a área da escola, circundada por áreas de hortas e pomares e as residências dispostas em todo o terreno. Há também áreas de plantação extensiva, criação de galinhas, estufas, floreiras, manutenção de um açude local para criação de peixes, áreas de recreação e a preservação ecológica de uma área protegida.

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