O trabalho final de graduação de caráter teórico e experimental tem como propósitos a) compreender a sociedade contemporânea a partir de contrapontos com a sociedade moderna, evidenciando seu “descompasso” com o habitar; b) investigar como essa sociedade analisada se expressaria em habitares, a nível utópico e sem alguns dos limitantes da realidade; e c) aplicar a teoria em experimentações de projeto, questionando e criando diferentes formas de produzir o habitar.
A vontade de pensar o habitar partiu de um questionamento: a forma como moramos está de acordo com a maneira que vivenciamos outros ambientes construídos? Por ser um programa arquitetônico conservador e extremamente pessoal, talvez seja a melhor forma de representar o “eu” em arquitetura e, desta forma, criar relação direta com as mudanças da sociedade, o “nós”. O conceito do habitar é amplo e está mais relacionado com apropriação, com adaptação e com as atividades vivenciadas em seu interior. O ato de habitar se refere à vida cotidiana, sendo o espaço habitado a casa, a rua, o bairro ou qualquer outro lugar.
Como metodologia, o trabalho iniciou com análises de habitares do movimento moderno e do momento contemporâneo. Optou-se por fazer um contraponto histórico para que se compreendesse o que é próprio do nosso tempo, observando o que mudou no pensar arquitetura em um intervalo de aproximadamente cem anos.
Como bibliografia para o trabalho, foi utilizado o livro “Herramientas para Habitar el Presente”, dos autores Josep Maria Montaner, Zaida Muxi e David Falagán (2011). O primeiro capítulo do livro apresenta conceitos básicos, sobre os quais se apoiam as reflexões acerca do habitar contemporâneo ao longo da discussão – Sociedade, Cidade, Tecnologia e Recursos. Esses conceitos foram usados como guia para análise dos projetos (sendo aplicados a cada época analisada com devidos ajustes de interpretação) e, posteriormente, para o desenvolvimento de projetos utópicos.
Feita a análise, foi observado como o foco, que no movimento moderno estava no coletivo, hoje está no individual, além de outras tendências contemporâneas como formas de consumo e organização social nas cidades. Porém, por mais que a sociedade tenha mudado muito nesse intervalo temporal, as respostar arquitetônicas dos habitares construídos não acompanharam o ritmo de mudanças.
Portanto, a resposta possível para esse cenário é um exercício teórico de pensar projeto em forma de utopia, levando cada tendência contemporânea analisada ao seu extremo, tanto em escala arquitetônica quanto urbana. Foram realizados projetos de quatro utopias distintas, que se somam e se contrapõe, refletindo o próprio conceito de contemporaneidade. Cada uma delas é acompanhada de um conto, que narra de um ponto de vista individual como seria viver nesses extremos.
O questionamento que guiou todo o projetar foi: como seriam esses habitares e como teriam que ser as cidades para abrigá-los? Ao fim do exercício, percebeu-se que todas as utopias contemplam a contemporaneidade quando vistas em escala individual, mas geram grandes crises coletivas por falta de compreensão do ser social. Tal exercício também pode servir como meio para que projetos executáveis possam ser mais explorados criativamente.
Utopias: habitar o contemporâneo
Autor:
Luísa Mantelli Anklam
Orientador:
Ana Paula Neto de Faria
Instituição:
Universidade Federal de Pelotas - UFPEL
Data:
2020-1
Parecer do júri
O projeto escolhido pelo júri como ganhador do Prêmio IAB RS 2020 é o trabalho PAV032, uma especulação teórica que consegue se fazer prática através de sua narrativa textual. É possível experienciar, através dos relatos, os espaços projetados como especulação utópica. Ao propor leituras possíveis de universos futuros face às transformações da sociedade das primeiras décadas do século XXI, e fazê-lo com muita sensibilidade e profundidade, coloca na ordem do dia uma pausa reflexiva sobre os caminhos futuros da arquitetura e do urbanismo e, principalmente, da sociedade. Faz uma pergunta urgente e necessária: para onde estamos indo?
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