TRAVESSA DOS ARCOS – Canyon Urbano: novos caminhos através da cidade consolidada

O projeto consiste em um Centro Urbano Sociocultural, no centro histórico de Porto Alegre, RS, que abriga um espaço livre, aberto e democrático para manifestações culturais, artísticas, sociais e políticas.
O edifício pretende-se como uma articulação de três vias, Av. Borges de Medeiros e Rua Duque de Caxias, na altura do Viaduto Otavio Rocha, e Rua Marechal Floriano Peixoto, tornando-se uma travessia, inspirada na “Promenade Architecturale” de Le Corbusier. Em seu livro “A viagem ao Oriente”, quando com 23 anos, viajou ao Leste e escreveu sobre cultura arquitetônica árabe, que mais tarde em “L’Ouvre Compléte” desenvolveria: “A Arquitetura árabe nos dá uma lição valiosa, é apreciada a pé, ao pé; é andando, movendo-se, que vemos o desenvolvimento das ordenanças da arquitetura. É um princípio contrário à arquitetura barroca que se concebe no papel, em torno de um ponto fixo teórico.”

O centro propõe-se como uma arquitetura político ativa, uma arquitetura que estimula, proporciona e ocasiona. Capaz de ativar processos de relacionamento que não existiriam sem ela, capaz de abrigar manifestações culturais espontâneas sem criar segmentos ou partidarismos, um espaço onde é possível acontecer encontros da sociedade, ser sede sem ser, efetivamente, sede.

Entrega para a cidade a produção cultural dela mesma democraticamente, ou seja, de forma política e culturalmente ativa. Desmuseifica a arte, tornando-a parte da cidade, uma arte sem filtros. Fomenta e incentiva a cultura popular e local. Da voz a artistas e grupos sociais hoje sem espaço, que se, ou quando, o consegue, atinge uma parcela mínima da população que frequenta os locais existentes, muitas vezes deixando de lado várias das pessoas que realmente deveriam ser impactadas pelas suas obras e projetos.

Essa escolha do terreno no Centro Histórico, é em função da base conceitual de uma arquitetura politicamente ativa, onde acontecem grandes experiências e manifestações culturais, sociais e comunitárias, tornando-se um agregador dessa vida política do centro da cidade. O terreno proporciona ligação entre três vias, Av. Borges de Medeiros e Rua Duque de Caxias, na altura do Viaduto Otávio Rocha – que atualmente não se articula acessivelmente e diretamente com a terceira, Rua Marechal Floriano Peixoto. Assim, a proposta é de uma travessia ativa, que articula essas vias, com ideia de arejamento, interlocução e resgate dos arcos do viaduto, um local corriqueiro, mas que faz parte da nossa história, incorporando-se assim aos fluxos e a memória da cidade, fazendo com que as pessoas se sintam estimuladas a se apropriar de um espaço que, na realidade, sempre foi delas.

É uma travessia viva, onde se vai passando e se descobrindo, até se construir na cabeça uma nova visão. Cruzar por ele é uma experiência transformadora, não porque ali é um lugar que se verá coisas diferentes, na verdade se verá aquilo possível de se observar a vida inteira, mas ali é um espaço onde efetivamente nos apropriamos da cidade, da nossa cultura e dos nossos pares, proporcionando e gerando uma cultura crítica. É uma travessia cotidiana, é a condensação do que a cidade é.

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