Resgate Cultural: um novo contexto para as artes dramáticas

Em meio a cortes homéricos de verbas da Cultura e de ataques à arte, há motivos para acreditar que a barbárie não se instala: em recente pesquisa nas capitais do país, Porto Alegre situa-se acima da média no que tange os hábitos culturais dos seus habitantes. Grandes eventos efêmeros como a Feira do Livro, a Bienal do Mercosul e o Porto Alegre em Cena evidenciam o sucesso de atrações do tipo entre a população.

O festival de teatro, atualmente já em sua 25º edição, foi responsável por transformar a cidade ao colocá-la no mapa das grandes produções cênicas do Brasil e do mundo. Em contraste, o cenário da educação teatral sofre em condições precárias. A Faculdade de Artes Dramáticas da Universidade Federal, que poderia ser um polo de referência nacional assim como o Festival, carece de instalações necessárias para abrigar o seu exigente programa. O prédio que abriga o curso e a Sala de apresentação teatral Alziro Azevedo é negligenciado: sofre com a falta de manutenção dos seus espaços, improvisados e limitados.

Aliado a este cenário, grupos independentes de teatro demandam espaços públicos para locação e realização das suas atividades. Como evidenciado anteriormente com o sucesso do Festival, a população anseia pela arte e consome a produção teatral. É necessário um espaço que represente esse contexto cultural exigido pelos produtores e consumidores de arte. É nesse quadro, portanto, que uma proposta de um complexo de artes dramáticas para a cidade deve ser compreendido: é um combate à amnésia, ao descaso, ao desinteresse governamental.

Uma nova sede para o curso de artes dramáticas é, assim, aliada ao contexto do mercado teatral: o Festival utiliza diversos espaços da cidade para a realização da sua programação cênica, mas não conta com uma sede própria para comportar suas atividades. Conectado à nova sede, um espaço aberto para locação é proposto para servir à comunidade e poderia ser utilizado não apenas pelo Em Cena para abrigar sua programação de oficinas, workshops e residências artísticas, como também por grupos de teatros independentes, gerando um ambiente pulsante de trocas entre diferentes agentes. Cria-se, dessa forma, o contexto artístico exigido pela cidade no constante combate pela valorização das artes e da cultura.

À semelhança da negligência enfrentada pelo Instituto de Artes da UFRGS, o local escolhido para a implantação do complexo tem a sua valiosa edificação abandonada à mercê de intemperismos que lentamente a transformam em ruína. O Palacete Chaves Barcelos é situado na esquina da Rua Duque de Caxias com a Rua Gen. João Manoel. Do início do século XX, o projeto de residência é de autoria do arquiteto Theo Wiederspahn e foi inventariado como bem de estruturação pela Equipe do Patrimônio Artístico, Histórico e Cultural da Secretaria Municipal da Cultura em 2004. Como premissa do projeto, há o restauro e refuncionalização do palacete. Dessa forma, pretende-se dar um novo significado à cultura da cidade com o renascimento de um bem precioso a partir da implantação de um programa que necessita também da sua revalorização.

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