Localizada em uma estreita faixa de terra entre a Lagoa dos Patos e o oceano Atlântico, no litoral médio do Rio Grande do Sul, a Lagoa do Peixe possui uma natureza única. Uma laguna rasa, resquício do que um dia foi mar, cercada pelas dunas e pela mata de restinga da planície costeira. Ao longo dos seus 35 km de extensão norte-sul emoldura uma paisagem em constante mudança, traduzida nas dunas movidas pelo vento, na água que flui entre os banhados e no ciclo marcado pela migração das aves, seus ilustres visitantes. Uma paisagem de encontros e conflitos, da pesca artesanal e da monocultura. Da insistência de viver onde o ambiente é por vezes hostil e da tensão constante na tentativa de domesticá-lo. Onde a passagem do tempo ganha dimensão própria, particular ao seu observador. Nessa paisagem está o Parque Nacional da Lagoa do Peixe (PNLP). Criado em 1986 como forma de proteger parte desse ecossistema, abrange áreas dos municípios de Mostardas e Tavares, sendo até hoje a maior unidade de conservação de proteção integral do Rio Grande do Sul.
Em reconhecimento à importância do PNLP, o projeto tem como tema o seu Centro de Visitantes, atendendo um programa voltado para atividades de visitação, pesquisa e de conservação. Como um complexo inserido em uma unidade de conservação, a proposta tem como principal norteador a sua relação com a paisagem e o ambiente natural. Assim, procura desenvolver um diálogo com o entorno, buscando uma integração harmônica na sua forma e na sua materialidade. Também busca estabelecer essa relação com o ambiente natural, através da recuperação da área de implantação e de estratégias que visam mitigar os impactos sobre a flora e a fauna, como por exemplo, a utilização de superfícies opacas e controle da interferência de iluminação artificial. Ao mesmo tempo, o projeto entende que deve facilitar a experiência e apreensão do lugar pelos visitantes.
Para a definição do local de implantação, foram consideradas as características ambientais do PNLP, suas fragilidades, os acessos e a conectividade entre as fisionomias que compõem a paisagem. A área escolhida está situada no município de Tavares, na zona de amortecimento do PNLP e tem histórico de uso para agropecuária e mais recentemente silvicultura de pinus. Optou-se assim por ocupar as áreas já impactadas pela silvicultura, contrapondo à dinâmica de substituição dos campos arenosos e dunas que vem ocorrendo por essa atividade.
A geração da forma partiu da horizontalidade e das dunas, que são uma referência visual na paisagem plana do PNLP. O contorno suave orientou a conformação das arestas, gerando volumes que procuram se encaixar na sequência visual da paisagem. O tratamento e recuperação das áreas adjacentes com espécies da flora local e de potencial ornamental procuram reforçar a integração com o entorno, bem como os percursos criados que exploram as diferentes ambiências e servem como base para as atividades de interpretação ambiental.
(Re)conhecendo a Lagoa do Peixe: proposta de um centro de visitantes em um parque nacional
Autor:
Ana Lucia Pressi
Orientador:
Ana Paula Neto Faria
Instituição:
Universidade Federal de Pelotas - UFPEL
Data:
2020-2
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