PARQUE MEMORIAL BOCA DO MONTE
A Poesia da Paisagem Natural e o Espaço Arquitetônico
O Parque Memorial Boca do Monte se trata de um Cemitério ecológico e Parque Natural, situado na cidade de Santa Maria-RS. Tem como objetivo principal ressignificar o uso do equipamento cemiterial na cidade contemporânea, através da tipologia dos Cemitérios Naturais – Natural Burials – e das relações visuais com a Paisagem. Esse projeto traz consigo alguns apontamentos pertinentes quanto a intervenção paisagística, no sentido amplo da palavra, buscando um método de diálogo formal entre o espaço natural e arquitetônico, agregando valor sensorial ao usuário.
Outro diferencial do projeto é a releitura das tipologias cemiteriais historicamente consolidadas na região, no qual através de um estudo tipológico, identificou-se padrões de apropriação do lugar, vinculados às relações visuais com o entorno imediato. É em cima disso que o projeto propõe certas alternativas formais sobre os arquétipos tradicionais, mais especificamente sobre o núcleo: Capela|Cemitério|Campanário, numa nova leitura desse Tipo, relacionando-o às forças do lugar e ao contexto natural.
Está implantado exatamente numa zona de transição entre os biomas Mata Atlântica e Pampa, fazendo com que o projeto acumule múltiplas funções. Além de responder à uma demanda municipal de cemitérios, o equipamento cumpre também uma função de “âncora”, no que diz respeito à salvaguarda ambiental do lugar, possibilitando um lançamento de diretrizes para o desenvolvimento e proteção da Bacia Visual como um todo – hoje pouco discutida pelo Plano Diretor.
O projeto além de abranger escalas de planejamento territorial e espaços abertos, tem como motivo paralelo a discussão sobre o Método de intervenção paisagística. Com isso, o trabalho se desenvolve sobre metodologias de análises físicas e perceptivas da Paisagem, utilizando principalmente das visibilidades e dos percursos. Devido às características únicas do lugar, essa abordagem respondeu muito bem, desde as etapas iniciais do projeto, trabalhando-o de maneira global nas diferentes escalas: Territorial, Espaços Abertos e Edificados.
Sobre o objeto arquitetônico em si, destaca-se o diálogo entre Corpo, Forma e Lugar, que proporcionou espacialidades mais sensíveis e esteticamente fundamentadas na relação de Exposição e Resguardo do usuário frente ao contexto. Para isso buscou-se referência compositiva em uma das artes que mais transmitem sensações: a Música. Utilizando da obra “Floresta do Amazonas” de 1958 do compositor Heitor Villa-Lobos, cuja temática é correlata ao tema de Homem x Meio, extraiu-se ‘figuras compositivas’ impressas pelo compositor através de melodias dissonantes e diversidade rítmica, que representam tensões específicas e que transmitem uma determinada sensação ao ouvinte.
Estas figuras compositivas são de origem abstrata, porém, através dos mecanismos arquitetônicos básicos como: Contraste e Hierarquia, Dominância e Ritmo; bem como a resposta do Corpo em movimento em relação aos objetos coreográficos do espaço, possibilitaram trabalhar de maneira mais sensível a arquitetura. Basicamente se tentou operar com elementos arquitetônicos em uma dimensão abstrata, em que a intenção do ‘traço’ carrega consigo uma função compositiva, anterior ao objeto arquitetônico. Isso possibilitou manipular o objeto, empiricamente, num intercâmbio de artes, e imprimir pertinência aos espaços construídos em relação aos aspectos perceptivos da Paisagem.
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