No intuito de resgatar as origens ancestrais do parto, atentando à diretriz da OMS de que ele deve ser idealmente praticado em ambiente o mais próximo possível do lar e cultura da parturiente, esse trabalho objetiva uma arquitetura do ambiente de nascer cujo ponto de partida seja a retomada do significado longevo do parto, ou seja, uma experiência sensorial voltada ao protagonismo e interiorização da mulher, através de conforto e de elementos que remetam ao vernacular.
Me incomoda a redução da geração de uma vida a um momento de sofrimento ou então de fraqueza, tratando a mulher, erroneamente, como incapaz e doente, seguido do abandono total da mesma a partir do momento em que a criança nasce. Quando gesta não possui assistência, enquanto pare é silenciada, e quando é mãe é esquecida. Isso porque a violência obstétrica não está resumida às suas formas mais difundidas – como episiotomias desnecessárias, ela também pode se apresentar como “simplesmente” ignorar as vontades da parturiente e seu plano de parto, a negar conforto, agressões verbais e não seguir outros procedimentos que não a cesárea quando ela não é necessária. Logo, o presente trabalho busca participar do contexto social como uma representação de como a arquitetura pode contribuir com a criação de ambientes de acolhimento e como agente na luta pela humanização do processo de parto. Sempre lembrando que a gestação e o parto remetem essencialmente a potência, lar, naturalidade, processo e beleza. Em paralelo com a arquitetura, a mulher se torna casa. O presente trabalho pretende ser casa para quem é casa.
Para tal, a proposta é a criação de um centro de parto natural humanizado na zona sul de Porto Alegre, ao lado do hospital Divina Providência. Isso porque a sua existência está obrigatoriamente atrelada à existência de um hospital num raio de 20min de carro, segundo a OMS. Também segundo a OMS, em relação ao ambiente do parto, qualquer gestante de baixo risco ou risco habitual deve dar à luz em lugar mais próximo o possível de sua casa e sua cultura, podendo até ocorrer na mesma. Entretanto, em país com realidades sociais e econômicas tão desiguais, se faz necessária a criação de um espaço específico para isso e que tenha a capacidade de atentar à toda população, independente de classe, gênero ou cor de maneira digna, segura e saudável, proporcionando além do ambiente de nascer, um espaço de acolhimento, de troca e de ensino, que promova o acompanhamento integral da mulher no período pré-natal, parturiente e puerpério.
O presente trabalho busca traduzir por meio de materiais naturais e leves, aconchego, contato com a natureza abundante, iluminação e ventilação naturais e formas orgânicas o melhor ambiente possível para o momento do nascer e do acompanhamento de uma gestação, tentando refletir o corpo da mulher nesse processo. Que o presente trabalho seja o contraste entre força e delicadeza, a potência da mulher e a fragilidade do produto de tudo isso: a vida.
Mulher: Corpo que é Casa. Centro de Parto Natural em Porto Alegre.
Autor:
Alice Helena Mohr Mueller
Orientador:
Claudia Piantá Costa Cabral
Instituição:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
Data:
2022-2
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