Corpo, espaço e cidade: composição a partir do Departamento de Arte Dramática da UFRGS

Este projeto se trata de uma intervenção arquitetônica e urbanística no conjunto que hoje abriga o Departamento de Arte Dramática e a Sala Alziro Azevedo, que integram o Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (DAD/IA/UFRGS), assim como a Praça Campus Sales, localizados no Centro Histórico de Porto Alegre, Brasil.
Buscando enfatizar aspectos interdisciplinares entre as Artes – Cênicas, Visuais, Plásticas, Dança e Música – e os princípios da Arquitetura e do Urbanismo, propõe-se um projeto que busque a transformação do espaço construído a partir da premissa do corpo em primeira pessoa.
Essa ideia reconhece a realidade biológica de um corpo da mesma forma em que reconhece os aspectos subjetivos da mente, os quais são inseparáveis. Isso refuta a separação cartesiana entre corpo e mente, o eu e o corpo. Este conceito se aplica nas investigações acerca das diferentes linhas pedagógicas do ensino do Teatro, entre elas, a que sobrepõe ao texto falado a prática corporal, ao escrever uma experiência através da sua expressão corporal.
Contemplemos, então, a estética da arquitetura a partir do interior, considerando que o centro da percepção espacial está no observador e em suas experiências. O DAD possui um histórico longo de precarização, sofrendo com a falta de destinação de verbas à universidade pública. Assim, o papel deste trabalho é questionar: como desenvolver a experiência de si mesmo em um espaço por si só tão desvalorizado?
Tal experiência, ao ser pensada e reconhecida, engloba aspectos políticos, sociais, econômicos, subjetivos – e tantos outros – de um corpo. Isso acontece através do desenvolvimento da capacidade desse corpo de se expressar pelo movimento e, através da imaginação, buscar o acesso à sua própria poética e ao entendimento da sua história. Assim, este projeto visa atender às necessidades tanto no sentido do aprendizado, reflexão e prática do Teatro, quanto na sua inserção urbana e relação corpo-território, revelando a dimensão coletiva do corpo: a cidade.
Partindo de um edifício de ensino (o aprendizado é coletivo!) e um patrimônio histórico, esse conceito se permeia na malha urbana através de um térreo livre (a universidade é pública!) que conecta o tecido mais fechado do centro com o espaço aberto onde está localizada a Praça Campus Sales, rebatizada Largo da Lucinha. Cria-se então um espaço em que os sentidos são convocados pela sedução das vozes, cheiros, cores, texturas e a cinestesia do lugar (o espaço é sensorial!), direcionando a distribuição do programa de necessidades conforme sensações fisiológicas e subjetivas distintas. Dessa forma, o caráter artístico se expande dos espaços tradicionais e atinge a população geral. Assim, pretende-se promover a valorização desses espaços, dadas as condições atuais de descaso e insalubridade das suas edificações e do seu entorno imediato, proporcionando um espaço de estímulo para a experiência corporal (a acessibilidade é universal!), criando diálogos entre o espaço da cidade e da comunidade acadêmica.

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