CANAL CULTURAL: PARQUE ITAIMBÉ E A CULTURA NA CIDADE

 

Em meio à árida malha urbana da região central da cidade de Santa Maria – RS, o Parque Itaimbé é a única área verde livre e de contato com a natureza. Este fundo de vale urbano, por onde corria o Arroio Itaimbé, foi habitado nos primórdios da cidade por tribos indígenas, fato que justifica o nome dado à área. Do Tupi-Guaraní, Itaimbé (ita + aimbé) significa pedra lascada, afiada, ou seja, rio da pedra lascada, da pedra afiada. Atualmente, o Arroio Itaimbé está canalizado e a condição de degradação e insegurança do parque impossibilita relações plenas entre usuários e paisagem e impede que esta área verde exerça sua função ambiental como fundo de vale urbano. Ainda assim, o parque é buscado pelos santa-marienses para lazer, prática de esportes e atividades culturais.
A partir do reconhecimento da vocação natural como espaço de convívio social e prática artística, propõem-se a reabilitação urbano-paisagística do Parque Itaimbé e entorno imediato, a qual tem por elemento catalizador um conjunto de edificações de uso cultural a serem dispostas ao longo do corredor verde.

Para tanto, a proposta desenvolve-se em três escalas de trabalho.

Na escala macro, propõem-se a requalificação da paisagem urbana do entorno imediato ao Parque Itaimbé, adequando o desenho urbano às demandas existentes e futuras. Com a ideia forte de permeabilidade, buscam-se estratégias para mobilidade, para ampliar a percepção da ambiência de parque para além de seus limites, e para retomar a função ambiental da área enquanto fundo de vale urbano. Nesta escala, destaca-se a criação de uma rede de canteiros pluviais junto aos passeios das vias do entorno, os quais funcionam como “afluentes de um rio”, encaminhando os escoamentos para o parque e qualificando a paisagem urbana.

Na escala meso, objetiva-se a recuperação paisagística do próprio Parque Itaimbé, reconhecendo seu potencial como espaço público democrático, de convívio social e produção cultural. Após ações que ampliaram o perímetro do parque, adotou-se um partido a partir da linha sobre o coletor d’água, conectando todos os pontos de menor cota do parque. Esta linha, que reforça a característica longitudinal do parque, é formada por um elemento funcional (pista multiuso) e por uma biovaleta. Esta infraestrutura verde faz uma relação simbólica com o antigo recurso hídrico da área, resgatando a história do lugar. Além disso, a biovaleta dá sequência à rede de canteiros pluviais do entorno e encaminha-se para o terceiro elemento de caráter ambiental do parque, a lagoa pluvial. A rede canteiro pluvial – biovaleta – lagoa pluvial eleva a qualidade ambiental da área e renova a identidade do lugar. A conexão entre os setores do Parque Itaimbé é reestabelecida por um novo desenho de viadutos que transpõem a malha viária sobre o parque, os quais priorizam a relação do pedestre com a paisagem.

Na escala micro, propõem-se 4 equipamentos arquitetônicos que expandam a cena cultural do Parque Itaimbé e aparelhem as atividades artísticas da cidade: coworking; galeria de arte; centro cultural para teatro, dança e música; e um conjunto de bares e restaurantes. Elenca-se o Centro Cultural para Artes Cênicas e Musicais como a edificação de maior importância funcional e simbólica e apresenta-se seu anteprojeto arquitetônico.

Sob os conceitos de permeabilidade (nas relações com o lugar), surpresa enquanto fato arquitetônico ( arquitetura surpreendendo os visitantes) e pedra lascada ( relações formais com a geometria e materialidade da pedra), propõem-se um composição compacta, facetada e “lascada” em três volumes. Estas fendas promovem circulação de parque entre a edificação e revelam um interior iluminado, translúcido, e de acabamento polido, em contraste com a casca (da pedra), rústica e opaca. Uma pedra que emana luz desde o seu interior. As atividades organizam-se, por setores, nos volumes individuais: volume principal guarda os espetáculos em seu interior e acomoda a plateia, o palco e todos seus espaços de apoio; o volume secundário é o bloco de ensaios, de uso diário; e o terceiro volume tem sua função entregue ao parque, pois nesta casca metálica aprecia-se o espetáculo que acontece do lado de fora: a vida urbana e a paisagem natural.

 

Parecer do júri

A Comissão Julgadora do Prêmio destaca o projeto Canal Cultural: Parque Itaimbé e a Cultura na cidade, em Santa Maria: pela análise das condicionantes, a compreensão do lugar, a ampliação dos limites do projeto, as novas funções propostas e a complementação do tecido urbano pela posição definida para as novas edificações. A animação almejada para o Parque completa-se em um edifício bem conceituado e bem concebido. A visão abrangente, desde a setorização proposta, o tratamento das questões ambientais do Parque até o detalhamento das edificações revela um trabalho potente.

Tags: Paisagismo, Requalificação, Santa Maria

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