O processo de urbanização foi responsável pelo crescimento acelerado das cidades e por uma série de consequências sociais. Entre elas, a situação de rua, diretamente relacionada à desigualdade social e aos direitos humanos. Infelizmente, milhares de brasileiros enfrentam essa realidade. A maioria, nas regiões metropolitanas, os grandes centros urbanos. Embora existam leis de proteção, observam-se ações públicas pouco efetivas.
Entre as cidades brasileiras, encontra-se Novo Hamburgo. O município, contabilizou 215 moradores em situação de rua em 2019, com um aumento de 30% nos primeiros meses de pandemia. Isso, frente à oferta de 45 vagas em abrigos municipais. Além da carência habitacional, o público em questão apresenta necessidades estruturais para a manutenção da alimentação, do trabalho e da autonomia. Por este motivo, é apresentado um projeto de habitação juntamente com centro de apoio para reinserção social, composto por um programa de necessidades amplo baseado em estudos do contexto sociocultural.
O projeto foi implantado na região central de Novo Hamburgo, no bairro Rio Branco, em um lote abandonado por anos. Para a proposta, foram consideradas como premissas as necessidades ao longo do tempo, o processo de acolhimento, a sensibilidade do público alvo, a limitação de recursos financeiros, a organização para viabilização da proposta e a relação com a comunidade próxima. Assim, a primeira estratégia foi promover o acolhimento da população através de princípios da Biofilia, empregando soluções simples e estimulantes.
A partir disso, foi criada uma quadra aberta para a comunidade, com passeios e comércios no térreo, além de demais usos comuns. Nos pavimentos superiores, torres residenciais se conectam por passarelas, garantindo a continuidade visual e o movimento contínuo em todos os níveis. Assim como, nas coberturas, acessíveis para o cultivo de hortaliças. As sensações proporcionadas configuram a essência do projeto e estão nas visuais, na materialidade, nos desenhos dos pisos, nas disposições dos blocos, ambientes e circulações, na conexão com a natureza e na relação de luz e sombra.
Todo o projeto foi baseado em soluções sustentáveis, com o emprego de materiais simples aplicados em linguagem contemporânea. As unidades habitacionais garantem o conforto térmico a partir da ventilação cruzada, proteção do sol e resistência térmica das fachadas. Para a estrutura, foi considerado o sistema convencional de viga e pilar de concreto armado, porém com vedações externas de tijolo ecológico e divisórias internas em wood frame com placas OSB, buscando principalmente a facilidade de remodelação. Também se destaca, a preocupação com a acessibilidade em todo o conjunto, especialmente nos apartamentos.
No programa de necessidades são apresentados espaços como assistência social, refeitório, salas de aula, biblioteca e creche, com o intuito de garantir todo o suporte necessário para a reinserção na sociedade. Enfim, o projeto tem como objetivo apresentar uma solução arquitetônica para a promoção de uma nova oportunidade de vida à população em vulnerabilidade. Além de fomentar a reflexão sobre a desigualdade social e o direito à dignidade.
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