Presença da Ausência: Requalificação Ambiental e Cultural do Morro Santana e suas Pedreiras

PRESENÇA DA AUSÊNCIA: REQUALIFICAÇÃO AMBIENTAL E CULTURAL DO MORRO SANTANA E SUAS PEDREIRAS

Esse projeto surge da observação e curiosidade por uma das paisagens esquecidas mais impactantes da cidade de Porto Alegre. Intrigante aos passantes, a ferida aberta no Morro Santana tem mais de 110m de altura e 200m de largura, sendo parte do imaginário público da população.
Território que abriga o ponto mais alto da cidade, com 311m, tem sua história marcada por abrigar sede da sesmaria de Jerônimo de Ornelas e mais tarde a Casa Branca e sede dos Farrapos durante a Revolução Farroupilha. Na década de 70, a exploração mineratória agressiva ilegal, realizada para extração de granito rosa, estremeceu os bairros vizinhos com dinamites.
Antes da colonização, o Morro Santana era território de povos originários do Sul. Desde 2008, tribos Kaingang e Xokleng reivindicam direitos sobre a área. Em outubro de 2022, a Cacica Gah Té liderou a Retomada Gah Ré, ocupando a área ao pé da pedreira. Contudo, enfrentam uma disputa judicial com uma família oligarca banqueira – proprietária da área – que pretende construir mais de 10 torres na área, antes considerada de preservação permanente até 1994.
Hoje, o local recebe visitantes para ecoturismo, com atividades como trilhas, slackline e escalada, muitas vezes guiadas por moradores locais e membros da tribo. No entanto, o Morro Santana enfrenta várias vulnerabilidades, desde a exploração minerária até a ocupação irregular na vila de antigos trabalhadores, com falta de moradia digna. As comunidades vizinhas enfrentam problemas como deslizamentos e ausência de saneamento. Ambientalmente, a privatização de áreas no morro resultou no crescimento de vegetações exóticas, como o Pinus e o Eucalyptus, que secam nascentes e reduzem a mata nativa. O Morro também sofre incêndios recorrentes, como os de 2015, 2018, 2020 e 2024, agravados pela vegetação mais seca.
Visando preservar a paisagem cultural da pedreira e o patrimônio imaterial da tribo indígena residente, além de promover a história da mineração e potencializar o ecoturismo, o projeto tenta atuar de forma holística. Iniciando com um master plan proveniente de visitas e análises, é proposta a criação de um Parque e Museu Paisagem no Morro Santana. Para o projeto, foi definida uma área de recorte, onde o museu paisagem se estende ao longo de 7 pontos.
Com inserções sensíveis, as edificações fazem parte de um percurso histórico e sensorial pelo morro, que varia seu tipo de intervenção conforme a topografia e o contexto natural.
Na primeira fase se encontram edificações permanentes: memorial das pedreiras, edificação de apoio do parque; centro de cultura indígena. Na fase de transição, junto do paredão da pedreira, a casa de culto. Ascendendo o território preservado, edificações leves: amplificador da paisagem – binômio; e um mirante no marco geodésico +311m. Por fim, de volta ao permanente, a escola kaingang para jovens indígenas e apoio de oficinas da tribo.

Atos exploratórios agressivos
Geram feridas na paisagem
As feridas cicatrizam
Se tornam parte da história da cidade
E podem ressignificar

Parecer do júri

A proposta é merecedora de DESTAQUE por vários atributos que reúne. O projeto se desenvolve em Porto Alegre, na ferida aberta no morro Santana, onde houvera uma pedreira, com mais de 110,0 m de altura. Propôs-se um memorial, como espaço público, que conte a história, registre denúncias dos crimes ambientais e suscite uma nova reflexão, ao longo da proposta de arquitetura, promovendo e uma experiência sensorial e educativa aos visitantes. O projeto se desenvolve, buscando proporcionar às pessoas diferentes sensações e as funções programáticas que abriga estão carregadas de simbolismos e, tecnicamente, acomodadas nos desníveis do sítio. Fazem parte do conjunto o Centro da Cultura Indígena, resolvido com um sistema construtivo composto por estrutura de madeira e conectores metálicos, elementos menos impactantes ao meio ambiente, o Binômio, o Pétreo com marco Geodésico e a Escola Kaigang. Previu-se também, elementos simbólicos nas paredes de vedação, proporcionando uma gradação de cores das pedras de granito rosa para as paredes, que outrora compunham o ambiente devastado. O trabalho é muito bem representado graficamente, contendo detalhes de encaixes do sistema construtivo e demonstrando maturidade de seu autor.

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