O Caso da Avenida Bento Gonçalves

Este trabalho é sobre a avenida Bento Gonçalves, uma das principais arteriais da cidade de Porto Alegre/RS. Trata-se de um estudo exploratório sobre a implantação de novos modais de transporte na avenida, levando em conta questões urbanísticas e sociais e buscando alternativas a uma lógica urbana de transporte e ocupação insustentável e excludente.

A avenida é uma ligação histórica da região central da cidade com sua zona leste e com o município de Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). A relevância da avenida para o transporte na cidade já foi identificada diversas vezes: além de ter o primeiro corredor de ônibus implantado da cidade – ainda hoje em uso, com capacidade abaixo da demanda – a avenida também teve papel central em todos os planos de transporte elaborados para a RMPA nas últimas décadas. Nenhum dos planos, no entanto, saiu do papel, e o transporte público na capital está em decadência, com falta de incentivo e queda na quantidade de usuários.

Paralelamente, a av. Bento Gonçalves não tem importância apenas como passagem: ela também possui uma concentração relevante de comércios – principalmente de pequeno porte -, serviços e, sobretudo, instituições. Em alguns pontos, configuram-se centralidades, mas, em outros, as grandes áreas institucionais ou condominiais possuem uma má interface com a avenida, criando grandes muros e zonas desertas, puramente de passagem. Além disso, tanto a zona leste de Porto Alegre quanto Viamão concentram áreas com população de baixa renda que dependem muito da avenida, e ambas regiões sofrem com fortes processos de condominialização da habitação, em terrenos pouco acessíveis e mal integrados à cidade.

Este trabalho visa, então, (1) levantar hipóteses de novos modais de transporte na via, integrado a toda RMPA, tendo como base os planos já elaborados no passado e, a partir disso, (2) desenvolver a hipótese da implantação de um sistema intermodal de transporte que tenha um veículo leve sobre trilhos (VLT) como espinha central, propondo um plano localizando estações e terminais. Além disso, visa (3) criar um novo perfil viário que acomode esse novo modal, com diretrizes gerais para desenho urbano em trechos típicos e nas estações. Buscando fortalecer a centralidade da via, a promoção da habitação de públicos variados próximo ao transporte público de qualidade e a própria vitalidade do ambiente urbano, (4) propõe diretrizes para ocupação dos lotes comuns e áreas de grandes instituições. Por último, ainda visando o desenvolvimento das centralidades, (5) traça diretrizes para os novos terminais intermodais, que contam com equipamento, comércio e serviço para o entorno.

A intenção é dar prioridade ao transporte coletivo e ativo, visando ampliar o direito à cidade e a redução da desigualdade. Guia-se pela sustentabilidade urbana e ambiental – onde a política de mobilidade por transporte motorizado individual, além de excludente, agrava crises energéticas e climáticas -, incluindo nisso a necessidade compactação da cidade através da intensificação de usos e densificação ao longo dos eixos de transporte já existentes, pensando a rua como espaço de estar, não como espaço residual.

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