IN[BETWEEN]: Ressignificação de Áreas de Passagem
A cidade de Osório/RS – onde se insere o projeto – é cortada pela rodovia BR 101 dividindo-a em duas áreas de paisagens distintas: tecido urbano e mata nativa (Mata Atlântica). Suas características implicam em formas de ocupação diferentes, em usos diversos, mas ainda assim são dois lados da mesma cidade.
A vida acontece daqui pra lá e de lá pra cá, com um lado complementando o outro. Nesse caminho há um espaço onde a ideia de cidade fica suspensa por um momento até que se percorra essa passagem e seja retomada a percepção de lugar. A rodovia é um terceiro elemento que, embora proveja acesso, não serve à vida da cidade em si, criando um vácuo na continuidade e permeabilidade inerentes ao ambiente urbano. Configura-se, assim, como uma barreira entre a cidade e a parcela mais peculiar do território. São 3 as áreas de passagem que transpõem essa barreira e conectam a cidade e o morro: 2 passarelas peatonais e um viaduto onde a rodovia passa por cima e a cidade por baixo.
O enfrentamento da problemática parte da reflexão de que os espaços não deveriam ser divididos por uma linha, por um limite preciso, mas por um espaço entre os espaços. Se a arquitetura constrói o vazio, construir um limite é construir um espaço. Um espaço in between. Nesse sentido, um lugar que se propõe a intermediar dois outros lugares precisa ser transição, do contrário, resultarão dois limites onde havia um. Para uma área de passagem ser transição é preciso que tenha força de caminho e presença de lugar, seguindo três diretrizes: (i) percurso: fazer do caminho um atrativo; (ii) permanência: promover os atributos de lugar; e (iii) percepção espacial: negar limites e expor vazios, mas definir espaços.
Ao abordar a espacialidade da configuração urbana, o objetivo do projeto é promover a interação das partes que compõe o território conectando cidade e natureza, a fim de incentivar o aporte de serviços sociais e ambientais. Os pontos de conexão levam as pessoas à natureza e amparam a futura criação de corredores verdes urbanos ligados à floresta. Por outro lado, é potencializada a comercialização da produção agrícola orgânica da comunidade do morro, melhorando sua integração com a cidade.
Propõem-se a substituição das passarelas existentes por estruturas com volumetrias de prismas, que abrigam praças lineares com áreas de ócio e vegetação. De grandes dimensões, os volumes passam leveza ao serem suspensos por pórticos. As treliças metálicas, não convencionais, foram pensadas em quadros que ressaltam os montantes e inibem as diagonais, dando um ritmo transverso ao comprimento do prisma e conferindo equilíbrio à composição.
A força linear do viaduto, perpendicular às passarelas, é cortada pela proposta de elementos transversos, destinados à feira de hortifrúti de pequenos produtores locais e horto para produção de mudas nativas da região. A implantação dos elementos metálicos nega a projeção do viaduto, ora recuados em relação a ele, ora avançados. Dessa forma, projetando-se para além do viaduto, convidam o caminhante a explorá-lo.
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