Espaço da Cultura e Memória Itaquiense – a arquitetura como um instrumento transformador
A arquitetura, diante de seu universo de possibilidades e escalas, tem como principal objetivo a criação de cenários, isto é, espaços de qualidade que operam como palco para a vida cotidiana. Quando se atua, no entanto, em projetos de espaços públicos, ampliam-se ainda mais tais possibilidades e o fazer arquitetônico passa a assumir um compromisso não apenas com o terreno, mas com o entorno, com a cidade e com a população de modo geral, tendo em vista o caráter transformador que possui. Diante disso, tais projetos devem sempre ser concebidos como instrumentos capazes de desenvolver e melhorar o estilo de vida de uma comunidade através da integração entre diferentes grupos sociais, valorização da cultura, educação, economia e história local, bem como da recuperação de áreas e edifícios que se encontram abandonados e apresentam riscos para o dia a dia das pessoas. Nesse contexto, surge o Espaço da Cultura e Memória Itaquiense – um centro cultural implantado em uma zona histórica de um remoto município gaúcho.
Situado no extremo oeste do estado do Rio Grande do Sul, a cerca de 670 km da capital, o município de Itaqui tem seus primeiros registros datados de 1700, quando uma pequena missão jesuítica lá assentou-se às margens do rio Uruguai. Ao longo de seu desenvolvimento no século XVIII, o vilarejo permaneceu sob domínio da Coroa Espanhola e tem no seu traçado urbano a mais clara herança de tais colonizadores, consolidando-se como um dos maiores do estado em extensão territorial. Atualmente, possui uma área urbanizada de 12,75 km², população estimada (2021) de 37.363 habitantes e economia ancorada no setor primário. Trata-se de uma pequena cidade que vem crescendo e investindo em melhorias de infraestrutura urbana e no fortalecimento de ações culturais.
A proposta surge da análise de um sítio histórico localizado no centro da cidade, composto por dois edifícios emblemáticos e reconhecidos pela sua riqueza arquitetônica: o Mercado Público, tombado pelo IPHAE, e a Casa Jaques, um antigo empório privado que, hoje, dispõe apenas de sua fachada. Atualmente, ambos encontram-se inutilizados, mas juntos configuraram, no início do século XX, o núcleo cultural e comercial da cidade. O projeto parte da construção de um edifício logo atrás da ruína da Casa Jaques, e extrapola os limites do terreno através de uma intervenção urbanística na rua que separa as edificações preexistentes, na intenção de conectá-los e revitalizar o espaço que, um dia, foi o coração da cidade. No térreo, o edifício busca estabelecer um diálogo com a ruína e com o novo espaço aberto, abrigando uma cafeteria e um salão de usos múltiplos. Logo acima, funcionando como um braço da educação do município, é proposta uma biblioteca e salas de aula. No último pavimento, situa-se um espaço administrativo e, aproveitando a altura alcançada acima da fachada preexistente, uma sala de exposições permanentes, com o objetivo de valorizar a cultura, a história e os artistas locais. Um novo edifício, um novo cenário. Para todos.
Deixe seu comentário