CREMATÓRIO REGIONAL NA CIDADE DE CAXIAS DO SUL

Atualmente vivemos uma pandemia global e foram levantadas questões técnicas pertinentes ao fim da vida e o luto que se segue. Soluções que a arquitetura e o urbanismo dão conta de resolver junto à sociedade nesse momento estiveram em pauta. Motivada por isso, além de discussões ambientais, espaciais, sociais e econômicas que envolvem a temática, a proposta de um crematório que atenda a cidade de Caxias do Sul, onde o projeto foi implantado, e as cidades vizinhas, buscou comportar um programa de necessidades funcional e adaptável.
Por conta de restrições quanto à zona de inserção da atividade proposta, e com base nas intenções projetuais, deu-se a escolha do terreno. Levou-se em consideração o fácil acesso ao local pelos moradores da região atendida pelo crematório e a carência de respiros urbanos por conta da densidade que se projeta na área. Graças ao programa, faz-se necessário um local um tanto quanto bucólico e tranquilo, em meio à natureza enquanto a energia e vida do entorno se encarrega de amenizar a fase de luto, integrando-se ao tecido urbano o que é indispensável à vida.
Buscando diretrizes para a implantação do edifício e lançamento do partido arquitetônico para além das análises do terreno e entorno, condicionantes físicos, etc., a Teoria do Impacto, ensinamento oriental resgatado por Helena Blavatsky embasou o conceito do projeto e guiou decisões práticas. Ela sugere que a “consciência só existe graças ao cruzamento de pelo menos duas dimensões” (SHWARZ, 2011), sendo assim, compreende-se a vida por meio da morte.
Aludindo a tal ideia, tem-se a divisão física do edifício em dois blocos distribuídos em um único pavimento, viabilizando o trabalho de movimentação dos corpos e facilitando o acesso dos visitantes. O bloco da vida é o que concentra as atividades e hábitos que temos diariamente, de modo quase que autômato, recepção, café, administrativo e apoio, venda de urnas e acesso ao pavimento inferior, uma laje que permeia toda a extensão dos blocos do pavimento superior, onde encontra-se o columbário e o jardim destinado ao enterro de urnas ecológicas. Já o bloco da morte é a outra dimensão, o encontro com o corpo inconsciente, e onde toda a função técnica é desempenhada, desde a recepção do corpo, preparo e cremação, além de contar com as salas de cerimônia e apoio aos familiares. Entre eles está o plano da consciência, por onde se acessa e de onde se tem a melhor vista do entorno, ainda intocado. O estacionamento fica logo em frente ao edifício, servindo como ponto de encontro e facilitando o embarque e desembarque dos visitantes. Uma passarela que existe desde o estacionamento até os fundos do lote tem o formato do limite da área de preservação permanente, tornando físico o curso natural d’água que é intermitente e quase não se vê graças a densa vegetação existente no lote em questão. Dali é possível espargir as cinzas ou ter um contato bem próximo com a copa das árvores, levando os olhos a ver o que não é de costume.

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