CINERE – Crematório Regional dos Campos de Cima da Serra

No meio em que vivemos, notamos como questões ambientais e urbanísticas são cada vez mais discutidas. Atualmente, vemos o impacto que os cemitérios exercem em nossas cidades. Espaços enormes, sem vida, planejamento e, muitas vezes, vandalizados.
Cemitérios são grandes causadores da poluição do solo e das águas subterrâneas em decorrência da má conservação dos espaços e jazigos, possibilitando que o necrochorume, solução aquosa oriunda de cadáveres em decomposição, se infiltre no solo, podendo resultar em doenças àqueles que moram em sua proximidade.
É trabalho do arquiteto projetar espaços que contemplem a totalidade da vivência humana, inclusive àqueles que marcam a memória, o luto e o final de uma trajetória.
Na região nordeste do Rio Grande do Sul, conhecida como Campos de Cima da Serra, especificamente na cidade de Vacaria, faz-se necessário a implantação de um equipamento crematório, visando a sustentabilidade, questões econômicas e sociais, visto que, dentro de uma sociedade tradicional e conservadora, a quebra de paradigmas se dá ao longo do tempo.
A cremação é um dos processos funerários mais antigos praticados pelo homem. Há cerca de 1000 a.C./750 a.C., gregos e romanos já utilizavam esta técnica. Na época era considerada uma medida higiênica e um destino nobre aos mortos. Já que, o sepultamento era reservado aos assassinos, suicidas e criminosos.
Quando falamos em religiões, no hinduísmo é que encontramos essa cultura mais difundida, por acreditarem na purificação e renascimento da alma através da cremação. Espíritas aceitam muito bem a técnica também, solicita-se apenas a espera de 72h para desvinculação do espírito-corpo. No catolicismo, foi considerado um tabu por muitos anos, até a cremação ser considerada um método digno de despedida.
Por fim, com o envelhecimento da população e o impacto urbanístico por meio da superlotação de alguns cemitérios, vê-se necessária a tomada de providências.
Neste projeto, o contato com a natureza traz conforto àqueles que sentem a perda do outro. Buscamos uma nova forma de despedida dos entes queridos, explorando sensível e delicadamente os aspectos simbólicos relacionados com a vida e com a morte, criando espaços internos e externos compatíveis com as emoções daqueles que se despedem dos seus entes queridos. Procuramos traduzir em formas e espaços estas sensações e emoções, buscando conforto e paz espiritual para todos que vivenciam a fragilidade da alma humana nestes momentos delicados das nossas vidas. Com isto, amplifica o potencial de uso das áreas abertas propondo um conjunto de espaços dinâmicos e tratando-os como protagonistas da decisão de implantação dos volumes construídos e dos trajetos estrategicamente pensados para todos os caminhos e passeios que fazem parte do complexo. Neste projeto, os espaços abertos não são residuais ou fruto dos espaços resultantes da arbitrariedade da forma arquitetônica. Ao contrário disto, assumem papel preponderante na estratégia de apropriação lenta e gradual de todos os volumes que fazem parte da composição.

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