Centro Cultural Gigante: Reabilitação de edifício garagem no Centro Histórico de Porto Alegre

Centro Cultural Gigante: Reabilitação de edifício garagem no Centro Histórico de
Porto Alegre

Os projetos de reabilitação tem como pretexto aprimorar as condições arquitetônicas e
urbanas de determinada obra. Apesar de se tratar de uma prática fortemente difundida, a
reabilitação ainda permanece muito restrita a edifícios que já apresentam certo valor
patrimonial intrínseco. Com a crescente saturação de centros urbanos, se faz necessário
irradiar a abrangência da reabilitação a construções que apresentam valor patrimonial no
sentido lato da palavra: uma estrutura construída representa tempo, dinheiro e espaço
investidos que não devem ser abandonados simplesmente pela desatualização funcional ou
antiguidade construtiva. A deserção destas estruturas por descaso ou negligência contribui
para a formação de vazios urbanos e zonas degradadas na cidade, como se pode encontrar
na maioria dos centros históricos brasileiros, não sendo diferente o bairro Centro de Porto
Alegre, onde se realiza este projeto.

Para abordar este tema, a tipologia do edifício garagem foi escolhida por caracterizar um
dos exemplares mais abundantes de construções negligenciadas, deterioradas ou mesmo
abandonadas nos centros urbanos atuais, sobretudo brasileiros. Tratam-se de
equipamentos amplamente construídos nas décadas de 50 a 70 mas que atualmente, com
a evolução social e nos meios de transporte de uma cidade, apresentam uma queda
vertiginosa em sua demanda. Dadas as proporções usuais destes edifícios, não basta
esperar que eles sejam simplesmente demolidos com seu desuso. Estes verdadeiros
almoxarifados urbanos normalmente apresentam grandes dimensões e são construídos
com materiais simples mas duráveis. Com o abandono, tais estruturas apenas ocupam um
grande espaço ocioso.

Dentre todos os edifícios garagem de Porto Alegre, a Garagem Gigante foi escolhida por
seu caráter quase alienígena em um contexto majoritariamente cultural de edifícios
tombados. Localizada em uma zona nobre do Centro Histórico, a vizinha do Teatro São
Pedro destoa completamente do seu entorno tanto por sua proporção (com 16 andares que
justificam seu nome) como por sua linguagem arquitetônica brutalista e racionalizada. A
densa vegetação no miolo da quadra, pertencente ao jardim do Solar dos Câmara,
contrasta com a estrutura e emoldura a sinuosa rampa de veículos do fundo do terreno. Sua
maior fachada, de orientação leste, é visível desde a Praça da Matriz e configura o plano de
fundo para o Multipalco Eva Sopher. Como um edifício tão gigante pode permanecer tão
invisível à paisagem urbana?

Dados estes condicionantes ímpares associados à Garagem Gigante, foi projetada a
transformação deste edifício em um centro cultural, visando à qualificação da zona e à
integração de equipamentos locais. A reabilitação desta edificação contribui para a
vitalidade do bairro e concilia suas riquezas às novas necessidades urbanas. O projeto
busca chamar a atenção para o potencial arquitetônico de estruturas que passaram a
configurar verdadeiros esqueletos na cidade, e como é imperativo enchê-las de vida
novamente. Através da arquitetura, da composição da materialidade e do diálogo com o
contexto, é possível questionar e transformar a paisagem.

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