CASALEGRE: Centro de Arquitetura e Patrimônio Brasileiro

CASALEGRE: Centro de Arquitetura e Patrimônio Brasileiro
Os ataques do Palácio do Planalto em 2023 representam a situação crítica em que o Brasil se encontra em relação ao patrimônio: com cortes de verbas e atropelamento dos órgãos fiscalizadores por parte dos governantes.
São diversos motivos os quais demonstram a importância de preservar um patrimônio brasileiro. O patrimônio é a identidade e história de uma nação. Patrimônio faz parte da cultura, essa que governos opressores tendem a destruição e omissão, visto que está associada a alienação e perda de opinião crítica de uma população. A proteção de acervos arquitetônicos é essencial para proteger o patrimônio cultural.
Entretanto esses acervos de arquitetura estão dispersos entre a administração pública, universidades, e com os próprios arquitetos e instituições como IAB e CAU. E muitas desses acervos não se encontram em condições adequadas, fadados a sua destruição. Com esse cenário, alguns arquitetos brasileiros têm doado seu acervo próprio para outros países, como o Lucio Costa e o Paulo Mendes da Rocha que doaram para a Casa da Arquitetura de Portugal.
O centro de arquitetura e patrimônio surge como um grito de socorro a toda situação de desprezo com arquitetura e patrimônio do brasil e tem como objetivo tratar dos acervos arquitetônicos, tornar acessível a população em geral e difundir arquitetura brasileira trazendo sua importância cultural.
Procura-se atingir esses objetivos através de exposições arquitetônicas interativas, palestras e workshop para público geral e crianças, acesso ao acervo arquitetônico, áreas de estudo e pesquisa, eventos nacionais e internacionais de arquitetura e guias turísticos nos pontos arquitetônicos de Porto Alegre.
A cidade de Porto Alegre é escolhida para abrigar o centro por já ser um destino arquitetônico devido a Fundação Iberê Camargo, a proximidade de países do Rio da Prata e diversas influências que recebeu. Já o terreno adotado foi devido a proximidade com pontos de interesse arquitetônicos, boa acessibilidade, estando em uma perimetral e com diversas oportunidades de transporte. Além disso o terreno se encontra em uma faixa entre duas cidades configuradas: a cidade modernista do centro administrativo de Porto Alegre e a cidade histórica. Essa faixa é como tivesse sido esquecida entre as duas cidades, com mal uso dos lotes, fachadas opacas e pouca vitalidade pedonal; faltando uma zona de transição.
Portanto existia um desafio projetual de fazer a amarração entre essas duas cidades, mas também uma amarração entre a edificação nova e a edificação histórica pré-existente na área de intervenção. As edificações ali presentes eram uma usina gás hidrogênio-carbonado que produzia gás para iluminação públicas e para abastecimento de fogões nos séculos XIX e XX. Sua inauguração foi no ano de 1874 e operou até 1917. Segundo o IPHAN as edificações remanescentes da antiga Usina constituem um testemunho da história da iluminação pública na cidade, porém atualmente se encontram abandonadas.
A estratégia conceitual foi proporcionar reflexão através da arquitetura, não somente nos espaços de exposição, mas em toda edificação. Através do patrimônio retomado, dos alinhamentos das diferentes cidades, dos visuais, do paisagismo e da materialidade.

Parecer do júri

O trabalho propõe uma temática de grande relevância: a criação do Centro de Arquitetura e Patrimônio, diante da crescente necessidade de proteger os acervos arquitetônicos, torná-los acessíveis à população e promover a difusão da arquitetura brasileira. A proposta merece destaque, não apenas pela importância do tema abordado, mas também pela sensibilidade e complexidade do projeto, que enfrenta o desafio de ser implantado em um terreno onde se encontram a cidade modernista e a cidade histórica, estabelecendo um diálogo arquitetônico entre esses dois contextos urbanos distintos. Entre as qualidades que tornam este projeto digno de destaque, ressalta-se a implantação que articula de maneira harmônica diferentes formas urbanas do entorno, criando uma transição entre as duas camadas da cidade. O conjunto de edificações proposto é inovador, com distintas volumetrias que criam novas perspectivas visuais e dinâmicas para o local. A atenção dada aos espaços livres também é um ponto de grande mérito: a criação de percursos, elementos verticais e espelhos d’água transforma o projeto em um convite ao passeio, proporcionando uma experiência enriquecedora e instigante para os visitantes.

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