Às Margens: Articulações Socioambientais no Bairro Sarandi Arroio Passo das Pedras

Às Margens: Articulações Socioambientais no Bairro Sarandi Arroio Passo das Pedras

O intenso processo de urbanização gerou o fenômeno da metropolização, que juntamente com a falta de planejamento adequado às necessidades de crescimento, desencadeou diversas consequências urbanas, como degradação dos meios naturais, ocupações irregulares ou em área de risco, segregação social e a própria especulação imobiliária favorecem o cenário caótico socioambiental em que vivemos até os dias atuais.

Com base neste cenário, tendo em vista como região de intervenção o bairro Sarandi, localizado na capital gaúcha, pois conforme Censo IBGE/2010 é o segundo maior bairro em número de habitantes do município. No limite da mancha urbana entre o bairro Sarandi com o bairro Anchieta existe uma extensa área territorial alagável e descampada, que não apresenta conexão com o tecido urbano existente e possui limitantes pelas barreiras naturais do local.

O projeto busca através de análises em três escalas, macro (análise dados do município), meso (intervenções no contexto do bairro) e micro (intervenções no Arroio Passo das Pedras), desenvolver o planejamento urbanístico da região, tendo como fundamento a concepção da expansão territorial e o desenvolvimento de um parque linear no Arroio Passo das Pedras, reconectando a paisagem urbana adjacente com a zona de urbanização consolidada, atendendo famílias que residem em situação precária nas margens do arroio, moradores do bairro e a sociedade em geral.

A área de intervenção conta com um contexto histórico de diversas realocações de assentamentos irregulares, sendo majoritariamente ociosa, entretanto, apresenta um entorno bem densificado, principalmente nas áreas de ocupação irregular e nas vilas registradas pelo DEMHAB. No quesito ambiental conta com diferentes atributos, como a presença de duas sub-bacias hidrográficas, sendo elas, a Várzea do Gravataí e o Arroio Passo das Pedras, a própria cobertura vegetal nativa provinda dos maciços verdes, praças e de APPs, além de uma zona classificada como área de lixão com aterro controlado que se localiza próximo a área urbana consolidada.

Sua topografia plana favorece o contexto ser suscetível a alagamento e inundações, sendo seu atual planejamento de prevenção por meio de canais artificiais, casa de bombas e de diques, que direcionam as águas pluviais até o Rio Gravataí. Entretanto, a capacidade deste sistema de bombeamento é insuficiente, considerando a área urbana consolidada e a prevista para expansão conforme diretrizes do Plano Diretor de Porto Alegre.

O desenvolvimento do projeto é pautado pelas características e carências socioambientais do bairro Sarandi, que com a mediação de mecanismo de fitorremediação e respeitando a identidade visual e os quesitos ambientais, promove o desenvolvimento da região, proporcionando qualidade de vida e do meio ambiente natural, o acesso democrático a moradia digna, equipamentos, infraestrutura, por espaços públicos acessíveis e de qualidade.

Parecer do júri

O trabalho se destaca ao identificar o território como potencial área de expansão do município e apresentar o grande impacto ambiental que resultaria do zoneamento efetivado pela legislação municipal. Discute questões de drenagem, ocupação de áreas de proteção e aterro de lixo controlado, identificados em análise local e de legislação urbana e apresenta dados relevantes ao trabalho quanto ao desenvolvimento sustentável proposto pela Agenda 2030. A proposta atinge um nível de planejamento urbano ao organizar o setor viário e compreender a distribuição dos equipamentos e espaços públicos para o atendimento equitativo da população, e se aproxima do desenho urbano ao propor soluções de drenagem urbana nas vias e calçadas, realocação da população vulnerável para quadras urbanas planejadas e disponibilização de espaços de circulação para diferentes modais. Chama a atenção a análise dos aspectos referentes às áreas de risco deste território, antes mesmo da enchente histórica de maio de 2024, apontando fragilidades do sistema de proteção de cheias composto por diques, casas de bombas e rede pluvial.

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