Desenhando Mobilidades: Vila Tronco

Desenhando Mobilidades: Vila Tronco

O trabalho parte de uma experiência de pesquisa em mobilidade urbana. As áreas de intervenção, inseridas dentro do polígono delimitado pela pesquisa, se encontram na área denominada Vila Tronco, localizada na cidade de Porto Alegre/RS. Área Especial de Interesse Social que testemunha diversas violências em termos de políticas públicas, dentre elas, a ampliação da Avenida Tronco, projeto que perpetua lógicas segregacionistas para a implementação de estruturas urbanas de mobilidade orientadas aos privilégios de poucos.

Como referencial teórico base foram utilizados conceitos do sociólogo Ole Jensen. No livro “Encenando mobilidades” Jensen faz um paralelo entre o planejamento urbano e o teatro, buscando compreender as relações entre um projeto urbano vindo de cima – “palco”, com o projeto vindo de baixo por meio das vivências dos usuários – “atores”. No livro “Desenhando Mobilidades” são exploradas formas de compreender o espaço urbano para fins de projeto. Para este trabalho foram exploradas as formas como os habitantes atuam no “palco urbano”, através de suas dinâmicas e sensações, evidenciando as dicotomias de um espaço pensado de forma global e tecnocrática e buscando transcender o discurso eurocentrado de mobilidade urbana saudável.

O projeto para ampliação da Avenida Tronco é um exemplo do urbanismo implementado de cima para baixo, que perpetua as relações de habitar e transitar citadas por Jirón (2008, p. 128) “um sistema de túneis inacessíveis”; onde os habitantes não conseguem viver os espaços em trânsito; estando confinados e imóveis dentro de sua própria mobilidade. A via é projetada para ser um novo eixo estruturador, conectando o centro e a zona sul. Não coincidentemente, também conectando a orla revitalizada aos novos empreendimentos privados próximos ao Barra Shopping Sul. O projeto ignora a escala local, excluindo os tecidos auto construídos. Foram removidas mais de 1500 famílias em situação de vulnerabilidade para a implementação da via que ocupa um espaço significativo em uma região carente de espaços públicos. Mais de 30% do trecho que passa pela Vila Tronco segue inacabado, gerando enormes transtornos na rotinas dos habitantes.

O projeto proposto está dividido em duas etapas, a primeira, um processo teórico que explora os diferentes cenários possíveis para a realização de um projeto de “baixo para cima” em uma área de ocupação informal. A segunda etapa é composta por propostas de intervenção realizadas em áreas selecionadas. Para a implementação prática do exercício teórico foram utilizadas estratégias que buscam assegurar a perspectiva dos habitantes nas decisões projetuais. A potência das relações com o ambiente serviram como ponto de partida para a elaboração de um projeto de conclusão que busca valorizar as experiências e formas de habitar que transcendem o planejamento urbano tradicional, neoliberal e herdeiro de suas origens coloniais, sem ignorar as urgências e precariedades existentes no ambiente perpetuadas por tal planejamento. Os dados coletados em pesquisa se somam à experiência em campo, aos afetos gerados a partir da relação com moradoras e moradores e compõem juntos as pautas projetuais principais para os pontos de intervenção.

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