CONDENSADOR SOCIAL – MONTE CARMELO

Com o crescimento desordenado dos grandes centros urbanos, as ocupações irregulares tornaram-se parte da paisagem das cidades. Essa realidade já consolidada exige um trabalho conjunto entre Academia, sociedade e Poder Público para que suas carências sejam atendidas e suas potencialidades sejam exaltadas.
O conceito de Condensador Social que marcou o construtivismo soviético dos anos vinte é traduzido na premissa de que a arquitetura tem a capacidade de influenciar o comportamento social. Assim, seria essa nova tipologia de arquitetura pós-revolucionária que trazia à tona questões sociais como o desejo pelo fim da desigualdade e da hierarquia de classes. Essa ideologia foi experimentada não apenas na União Soviética, mas também, nos Estados Unidos da América de formas diversas, envolvendo comércio, espaços de lazer e inclusive coletivizando espaços comuns da habitação.
Ao longo dos anos novas interpretações e adaptações foram estudadas e desenvolvidas a fim de manter o ideal do convívio, do encontro, da vitalidade das cidades, mas de acordo com as demandas contemporâneas. Retomar esse conceito nos tempos atuais, instiga a reflexão acerca das relações interpessoais. Os seres humanos se tornaram mais individualistas, as famílias passaram a ser menores e o uso exacerbado da tecnologia, muitas vezes, acaba por alienar as pessoas. Propor um equipamento comunitário que incentive o encontro, a troca de experiências e o sentido da palavra “compartilhar” é uma busca pelo fortalecimento de vínculos e pelo real significado de “sociedade”.
A palavra “condensar” por si só, significa densificar, compactar, tornar mais resistente. Sendo assim, o esperado é que um equipamento condensador proporcione ambientes nos quais as atividades humanas sejam adensadas, ou seja, para onde elas convergem.
O tema foi escolhido de modo a atender um assentamento irregular específico, o Monte Carmelo – ZEIS 15 do Plano Diretor Municipal de Caxias do Sul – mas que reflete a realidade de diversas ocupações como esta. Este equipamento comunitário visa ofertar espaços de lazer e convívio, até hoje inexistentes no local. Além disso, a implantação de um edifício com esse caráter e inserido em um contexto dinâmico como o da favela, exige diretrizes de melhoria para todo o conjunto, afim de que essa intervenção resulte na promoção e apropriação do espaço pelos moradores, atendendo suas demandas e fazendo com que os mesmos sejam agentes participativos do processo.
Tendo em vista a alta densidade de ocupação do entorno, os usos são dispostos como prateleiras urbanas. Além dos setores básicos de apoio e administração, a proposta contempla um programa de necessidades que proporciona cidadania (Associação de Moradores de Bairro), saúde, esporte recreativo, cultura e lazer. O equipamento ocupa as áreas abertas e as áreas abertas permeiam o equipamento.
O projeto se resume em uma busca pela síntese formal e estrutural, sem deixar de lado a sensibilidade estética e colaborativa, onde é simples imaginar desde cada sala de oficina a cada ladrilho amarelo sendo apropriados pelos moradores locais.

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