Biblioteca Pública de Dois Irmãos

BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL DE DOIS IRMÃOS
A mudança nos hábitos de consumo tem, indiscutivelmente, ampliado a geração e o acesso a conteúdo em todos os planos da sociedade. A substituição dos meios analógicos e a digitalização vem como resposta a necessidade de diminuir o preço final para consumidores cada vez mais exigentes, ameaçando empresas e setores que dependiam de material impresso ou mídias físicas para sua subsistência.
O lote escolhido está localizado no centro, entre a Avenida 25 de Julho, relevante eixo comercial e festivo; e a Avenida São Miguel, que até hoje preserva suas características e edificações históricas. A maior face do lote está voltada para um caminho de pedestres crucial para a manutenção da vivacidade do local.
A pluralidade e a flexibilidade de usos são chaves para a manutenção de uma biblioteca que passa por transformações tecnológicas. A criação de espaços capazes de abrigar diferentes atividades simultaneamente é o que fomenta a permanência do usuário e aumenta a relevância para a comunidade.
O programa se desenvolve verticalmente em três diferentes níveis de abertura, concentração e comunidade.
No terceiro pavimento ficam as áreas de maior concentração e silêncio. As prateleiras organizadas de forma tradicional são intercaladas com áreas de estudo e leitura individualizadas para criar um ambiente de relação estreita com os livros e incentivar a leitura autônoma. Os espaços são organizados para que reflitam, de forma abstrata, os usos que neles se desenvolvem. Os setores caracterizados pela descoberta, abrigados no volume de concreto, exploram a libertação à ordem sugerida pela estrutura em benefício de efeitos estéticos, tomando formas escultóricas que criam uma experiência sensorial única. Já no volume metálico suspenso onde ocorre a assimilação do conhecimento, o mobiliário é disposto de forma linear e racional, tirando partido da iluminação homogênea dos grandes planos envidraçados.
O destaque do segundo piso é um grande espaço de estudo e capacitação flexível, configurado por elementos leves e móveis que permitem usos múltiplos e simultâneos. As propriedades amorfas desse nível asseguram uma gama de possibilidades no que diz respeito ao uso e apropriação do espaço da biblioteca, sendo peça fundamental para a manutenção e vigor desse equipamento público.
No nível da rua o prédio busca esmaecer as barreiras entre o que é dentro e fora e o espaço se mostra expansivo e flexível, como um convite a visitação e consequente permanência. Os acessos são múltiplos e francos, favorecidos pela hierarquia gerada pelo volume suspenso. O espaço expositivo tem um pé-direito triplo evidenciando a circulação vertical que se desenvolve de forma escultórica sobre o vazio. Dispondo-se da sua característica dinâmica, estes elementos de transição funcionam como um filtro gradual do viés público e coletivo do térreo até a individualidade sugerida pelo programa do terceiro piso.
Ao contrário do espaço das bibliotecas tradicionais, onde predomina o pretexto instrucional e didatista, a proposta busca promover um ambiente espontâneo e não mecânico, onde os usuários exercem com autonomia a leitura criando um relacionamento dialógico e afetivo, tanto com o texto quanto com o prédio em si.

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