A Recognição e Mutação de uma Arquitetura Ancestral

A RECOGNIÇÃO E MUTAÇÃO DE UMA ARQUITETURA ANCESTRAL

No estado do Rio Grande do Sul as comunidades indígenas vivenciam adversidades comuns às demais comunidades indígenas do Brasil, e buscam manter vivas as suas culturas espaciais e construtivas. Diante este contexto, o objetivo deste trabalho é propor uma conciliação entre a cultura presente no espaço construído e as novas demandas relacionadas ao habitar Guarani Mbya na Tekoa Yvy’ã Poty (Aldeia Flor da Serra), situada na zona rural do Município de Camaquã/RS. A casa compreendida como tradicional, já não mais atende às necessidades do grupo, que incorporou muitos dos hábitos não indígenas e passou a construir habitações muito semelhantes às do entorno da aldeia. Este movimento marca o início de um processo que lentamente apaga o modo característico de construir e viver dessa comunidade.

Durante a graduação de Arquitetura e Urbanismo, muito pouco é discutido sobre as arquiteturas indígenas. Assim, conhecer e reconhecer esta arquitetura ancestral é o primeiro passo para propor uma intervenção que busca resolver adequadamente o problema em questão. Para tanto, o trabalho seguiu três fases distintas: pesquisa bibliográfica sobre a cultura, as crenças, as contribuições à sociedade não indígena e as arquiteturas do grupo indígena, a fim de identificar continuidades e transformações nesta comunidade; aplicação de metodologias de participação social com membros da Tekoa, com o auxílio de maquete, atividades gráficas, conversas e visita guiada pela Reserva Indígena; e, por fim, a interpretação destas informações para o desenvolvimento de uma proposta arquitetônica que busca oferecer soluções apropriadas à realidade e à ancestralidade Guarani Mbya.

A cultura não é estática, ela está em constante movimento. Os indígenas, assim como os não indígenas, possuem total direito de transmutar seus saberes, seus hábitos e suas arquiteturas. E assim os fazem. Conforme Günter Weimer: “Uma arquitetura nova surge da transformação de outro tipo que lhe é anterior e que já não mais atende às necessidades de uma vida em constante transformação”. Transformar a casa tradicional, que atendia a demandas de uma outra época, em uma casa que possui características tradicionais, mas que ao mesmo tempo, também corresponde a uma nova forma de habitar, é o objetivo principal deste trabalho. Em paralelo, é esperado proporcionar projetualmente uma renovação no espaço coletivo da aldeia, propiciando oportunidades de encontros muito mais satisfatórios e seguros.

É importante que fique claro, que este grupo não está isolado do restante da sociedade e que ele busca auxílio para resolver projetualmente suas novas construções e não somente auxílio monetário e braçal. Não intervir na resolução de problemas projetuais e construtivos presentes nas aldeias indígenas, com o conhecimento técnico, social e histórico que um arquiteto e urbanista possui, é de certa forma, negligenciá-los e não reconhecê-los como integrantes da sociedade brasileira. Com o cuidado de respeitar a singularidade de cada cultura e arquitetura, devemos auxiliá-los no construir de novas realidades.

Parecer do júri

O projeto traz uma reflexão pertinente acerca de Territórios Indígenas, levando em consideração e respeitando o Povo Guarani Mbya na Tekoa Yvy’ã Poty (Aldeia Flor da Serra) em suas especificidades. Colocando-os como protagonistas no desenvolvimento do plano de necessidades, dialogando de forma horizontal com adultos e crianças da aldeia. Tendo como resultado arquitetônico a cosmopercepção edificada, tendo a ancestralidade como fio condutor.

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