A Linha, O Horizonte e o Território: Ensaio sobre a paisagem na Ferrovia do Trigo

A Linha: Localizada no Vale do Taquari, em Vespasiano Corrêa, a Ferrovia do Trigo foi projetada para desenvolver a economia local e escoar a produção da região. Com 152 km, a EF-491 liga Roca Sale a Passo Fundo e é caracterizada por seus 32 túneis e 23 viadutos. Nela está localizado o Viaduto 13, conhecido por ser o mais alto da América Latina e o segundo mais alto do mundo, com 143m de altura. O Rio Guaporé atravessa o município e a linha férrea quase que imita o seu curso natural, acompanhada de uma cadeia montanhosa às margens do rio que formam grande parte da paisagem da região.

O Horizonte: Como primeira tomada de decisão, propõe-se a criação de um parque natural nos limites onde a mata nativa se encontra preservada, limitando a ação humana no meio natural e conservando a paisagem característica. Atualmente, no Viaduto 13 já existe um apelo turístico, visto que é visitado não só por sua imponência em termos de engenharia, mas por ser o ponto de vista capaz de englobar o horizonte como um todo, trazendo ao olhar toda exuberância da paisagem do rio, das cascatas e da própria ferrovia. A empresa detentora da concessão de uso da ferrovia proibiu em 2018 o trânsito de pessoas pelos trilhos. O projeto resgata a oportunidade de se conectar com a natureza e pretende atrair o olhar de ainda mais pessoas para um local tão privilegiado em nosso estado.

O Território: Observando as demandas locais e a falta de infraestrutura para receber turistas, a proposta, além de englobar o parque natural, contará com o mapeamento de trilhas, percursos e pontos de interesse nas limitações do parque natural e a reestruturação de percursos pelos viadutos, visto que, nos dias de hoje, encontram-se sem qualquer tipo de medidas de segurança necessária para aqueles que pretendem seguir pelos caminhos do trilho ou praticar esportes. O “território” diz respeito ao impacto local, à arquitetura aplicada ao seu contexto e a relação dela com o ambiente. Diversos pontos, em diversas escalas foram abordadas ao longo do projeto, que em termos de conjunto reforçam a vontade de oportunizar o turismo nesta região

A proposta transita da escala do território à escala do objeto e tem como desejo ensaiar a implantação da obra em meio a paisagem natural, utilizando o poder da arquitetura, através da inserção no espaço, da escolha da materialidade e da composição, de transformar e emocionar, transmitindo sensações o tempo inteiro através de um projeto que leva em conta seu entorno, seus potenciais e suas particularidades. A paisagem é a razão pela qual turistas buscarão este local, ela foi cenário para a construção da linha férrea nos anos 70 que impressionou moradores da região com seu impacto e imponência e será agora plano de fundo para uma arquitetura que convida, que instiga, que questiona e que acolhe. É a arquitetura cumprindo seu papel.

Parecer do júri

O trabalho vencedor apresenta a temática escolhida com soluções criativas que valorizam a história do lugar e os patrimônios edificado (linha férrea) e natural. Conta com bela e detalhada apresentação gráfica que valoriza a proposta e demonstra as diferentes escalas trabalhadas na intervenção. Demonstra também apropriação sobre o sítio escolhido, que apesar de ser bastante frequentado por adeptos aos esportes de aventura, dispõe de pouca infraestrutura para tal, nesse sentido o autor se preocupa inclusive nas formas de viabilizar economicamente a intervenção que incentiva o turismo na região. O projeto ainda sugere novos percursos e usos a partir de uma rica análise da situação existente. Acerta na escolha formal e na criação de diferentes momentos das edificações, apresentando inclusive como seriam detalhadas as questões de expografia do lugar.

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